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  • Foto do escritorBruno Crispim

como conquistar o leitor na primeira página




Existem 5 funções que o seu primeiro capítulo deve cumprir (e rápido):

  1.  Estabelecer o gênero

  2.  Introduzir o protagonista

  3.  Mostrar o mundo

  4.  Dar pistas do tema

  5.  Apresentar a situação dramática


Ok, agora que essas funções estão frescas, como começamos, de fato, um romance?


Existe uma infinidade de formas e nenhuma solução infalível. O que funcionou em um enredo pode não funcionar em outro, ainda que seja parecido.

Na escrita, acostume-se, não existem fórmulas mágicas.

Achar o começo da sua história é uma questão de tentativa e erro, além de muita reflexão. Você precisa testar as possibilidades até decidir pela melhor opção disponível. E, para testá-las, você precisa conhecê-las. Para isso, nunca pare de estudar a escrita e leia muito.


Contudo, existe algo que não é natural na construção de um início. Quando começamos a imaginar uma história, raramente é pelo seu primeiro capítulo. É usual que comecemos pelo clímax ou pela resolução. O motivo é que os conflitos principais da trama são enfrentados e superados nessas partes, e o nosso processo cognitivo costuma procurar e focar, ainda que inconscientemente, nos conflitos das histórias.


Um exemplo de livro que não chegou à autora pelo início é Crepúsculo. Stephenie Meyer começou imaginando o conflito em um amor recíproco de uma humana e um vampiro. Para permitir que a história pudesse existir, ela teve que construir um vampiro que não devorasse a amada no primeiro contato, e uma humana que não fugisse de um vampiro logo de cara. O início da história foi desenhado a partir desse conflito fundamental.


Além disso, por mais que o começo seja tão importante para trazer e manter o leitor na história, a parte mais importante do enredo acontece no segundo Ato. Com frequência, depois que passamos pelo primeiro capítulo, esquecemos detalhes ou, pelo menos, não pensamos mais neles. Lógico que existem exemplos de inícios inesquecíveis. Mas eles são muito raros. Não tente começar pela exceção.




PROPOSTA


O que proponho é que você escreva a sua história a partir de onde ela nasceu na sua imaginação. Se ela apareceu do meio, escreva daí para frente até o final. Depois, escreva o início e caminhe até o meio.


Aconselho que escreva dessa forma porque muito do que o início precisa ser, só é revelado quando você escreve o final. Sabendo qual é o desfecho da trama, como termina o arco dramático do protagonista, você, finalmente, saberá de onde partir e o que mostrar ao leitor para seduzi-lo logo de cara.


Parece pragmático demais. Não é. O início não é um aforismo artístico. É puro design. Ele tem as suas funções para cumprir, além de ter que ser agradável e sedutor. Tudo isso, rápido.


Lógico que nem todos os enredos conseguem ou devem começar ligeiros. Talvez existam muitas personagens a serem descritas. Ou os conflitos são complexos demais e precisam de tempo para serem trabalhados. Ou a construção do suspense na trama deva ser gradual para não gerar suspeitas cedo demais. Sem problema, desde que seja uma escolha consciente.


De qualquer forma, é interessante apresentar três técnicas para acelerar uma abertura lenta:




AGRUPAMENTO


Agrupe algumas cenas em uma só. O objetivo é concentrar a força delas em uma. Procure por múltiplas cenas que sintetizem o protagonista, que caracterizem um mesmo lugar, ou que abordam o mesmo conflito.


Junte o núcleo dessas questões em uma cena e postergue ou exclua qualquer outra questão para as próximas.


Exemplo: Se você tem uma cena para mostrar como um filho odeia a mãe, outra em que ela nunca tem paciência com ele, e mais uma onde a irmã joga um contra o outro, com essa técnica você agruparia essas três cenas em uma só: mãe e filho discutem enquanto a irmã os vê e sorri satisfeita.




DESLOCAMENTO


Encontre uma cena importante e acelerada no seu enredo e a desloque para o início. Pode ser o incidente incitante da história (que normalmente fica no fim do primeiro Ato), o clímax ou qualquer passagem em que tudo dá errado para o protagonista. Quando tudo estiver contra o protagonista, quando ele estiver para perder as esperanças, volte para o início “real”, com um flashback, e conte a sua história em ordem cronológica.


Essa técnica, também conhecida por in media res, é indicada para enredos complexos que precisam ser trabalhados devagar. Para não correr o risco de perder os leitores mais impacientes, você traz uma boa dose de ação para o início. O leitor pode ficar um pouco perdido a princípio, mas se for capturado pela urgência da situação, ele vai aceitar que a informação venha depois.


Existem dois desafios para usar bem esta técnica:

  • Não deixar o leitor perdido demais.

  • Estabelecer uma empatia imediata do leitor com o seu protagonista – normalmente colocando o herói no lugar da vítima perseguida.


Exemplo: Sua história vai contar a transformação gradual de uma pessoa pacata a um criminoso cruel. Naturalmente, o começo do arco do protagonista será uma mostra da sua rotina entediante. Para não cansar o leitor, mostre uma cena do “futuro”, em que esse personagem está matando violentamente uma pessoa.




PRÓLOGO


Essa técnica – um pouco batida, principalmente em livros de fantasia – mostra algo que aconteceu antes do arco do protagonista começar. Sua função é chamar a atenção do leitor para algo interessante e importante, para que ele seja conquistado pela história. Exatamente por sua grande utilidade, a técnica acabou sendo usada demais, então sua utilização deve ser analisada com cuidado. Pergunte-se, sempre:


  • A técnica contribui para a evolução do enredo?

  • Seu uso contribui para a conquista do leitor?

  • Existe outra técnica disponível que teria efeito similar?

  • Seria melhor se essa cena fosse apresentada posteriormente?


Essas perguntas são fundamentais porque o excesso de uso – muitos feitos de forma errada e nociva – pode anular o efeito esperado. Portanto, só use o prólogo em último caso e se ele contribuir necessariamente para o desenvolvimento da trama.


Exemplo: Um príncipe vive escondido pelo medo de ser achado pelo assassino de seus pais e irmãos. Treina de dia e sonha com a vingança de noite. O livro começa com a cena do assassinato da sua família. Um narrador em primeira pessoa amargurado pode trazer textura à técnica.


>>> E se você quiser aprender mais sobre a construção de inícios que capturam o leitor imediatamente, eu recomendo a leitura do livro 10 Erros do Escritor Iniciante. Nele você destrincha os erros mais comuns dos escritores iniciantes - e como evitá-los.



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