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Foto do escritorBruno Crispim

quanto um escritor ganha por livro?

Atualizado: 13 de set. de 2022


- Guia do Escritor de Ficção

As grandes casas editoriais brasileiras são vistas com ambiguidade por quem sonha em se sustentar com a venda dos seus livros. Por um lado, elas são o baluarte da esperança – muitos aspirantes a escritores acreditam que um contrato com uma boa editora vai resolver todos os seus problemas. Por outro, é delas que vem o “não” – quando existe qualquer resposta – que tem o poder de derrubar até o mais otimista.


A partir dessas duas perspectivas conflitantes, vamos construir a nossa análise crítica do mercado.


Primeiro, na maioria das vezes em que uma grande editora aposta em escritores iniciantes, as vendas são pequenas. Então, um bom contrato não significa uma boa vendagem.


Segundo, duas das mais importantes qualidades de um escritor são a paciência e a perseverança. Um “não” hoje pode ser um “sim” amanhã, se você aprender com os seus erros e não desistir. Faça um exame de consciência, conserte o que for preciso e tente de novo.

Isto posto, é chegada a hora de racionalizar o papel dessas companhias. Começando pelo óbvio. As editoras são empresas e, como tal, devem ser lucrativas para se manterem em operação. Se não concorda com isso, separe um dinheiro e invista em uma empresa que está falindo. Você ficaria tranquilo sabendo que em algum tempo o dinheiro investido viraria pó? Duvido.

E o negócio da editora não é simples como se imagina. Publicar um livro é um empreendimento arriscado.

No Brasil, para ser considerado um best-seller, ou seja, um sucesso, uma obra precisa vender pelo menos duas mil cópias num ano. Então vamos às contas:

> O preço de capa médio do livro no Brasil é cerca de R$ 35,00.

> A livraria recebe 50% do preço de capa (varia de 40 a 60%). Sobram R$17,50 por livro.

> O distribuidor cobra 10% do preço de capa para levar o livro da gráfica para a livraria. Sobram R$14,00 por livro.

> O autor recebe 10% do preço de capa (de 8 a 12%). Sobram R$10,50 por livro.

Sobram 30% do preço de capa para a editora que tem que arcar com o custo físico do livro (impressão), com os custos fixos da empresa (funcionários, aluguel, financiamento, estoque), com seus custos variáveis (marketing, descontos, erros, impostos), com o risco de não vender. Além de dar lucro.


Seguindo com a nossa simulação, a editora tem uma receita de R$ 21 mil com essa obra (R$ 10,50 x 2000 livros). Obviamente, cada editora tem sua própria estrutura de custos, mas consideremos o cenário:

A editora acreditou que venderia 3 mil livros (uma encomenda padrão para as grandes) e encomendou essa tiragem (número de livros impressos).


A impressão de cada livro custou 10% do seu preço de capa (R$ 3,50 x 3000 livros = R$ 10,5 mil).

Nessa hipótese, sobraria apenas R$ 10,5 mil (ou 5,25 reais por livro vendido – ou 15%) para a editora cobrir as suas outras despesas. Ignorando o alto custo Brasil (carga tributária, juros, burocracia, etc.) e considerando que esse foi um dos livros que teve sucesso, o ganho desta também terá de contrabalançar as outras obras deficitárias. É bastante otimista imaginar que a editora desse livro dará lucro no ciclo analisado.


Na hipótese de uma tiragem de 5 mil com venda de 2 mil unidades, o que sobraria para a editora depois da impressão seria apenas R$ 3,5 mil, ou 5% do preço de capa dos exemplares vendidos.


Obviamente, estas são apenas simplificações. Entram nas contas a gestão de portfólio da editora, as vendas de calda longa (livros antigos que vendem devagar e sempre) e os mega best-sellers. Mas ilustra a complexidade do ambiente editorial.

Nessa análise, contudo, levanto alguns pontos para a reflexão sobre o mercado literário brasileiro:

> É pouco provável que a editora tenha mais de 5% de lucro por livro vendido, salvo com os mega best-sellers.

> Os custos logísticos no Brasil são muito altos, dando à distribuição o mesmo peso nos custos da criação da obra.

> Metade do preço de capa fica com o vendedor que:

- Não compra o livro (consignação), logo não precisa pagar pela encomenda dos produtos.

- Efetua o pagamento meses depois da venda, e apenas pelos exemplares vendidos.

- Notoriamente tem problemas de gestão de estoque (muitas vezes não sabe o que vendeu).

- Não tem o risco de não vender. Devolve os produtos encalhados seis meses depois ou mais (no fim do ciclo de vida da maioria dos livros).

- Recebe uma comissão muito maior do o normal para outros produtos (a margem média do varejo no Brasil é 30%, o que já alto – nos EUA a margem é de 10%).

> Sobre a parte que cabe ao escritor:

- O risco de lançar um novo autor é alto e limitado à editora (comercial).

- O risco é aumentado pela falta de investimentos em marketing pela própria editora. Sem marketing, a venda é necessariamente prejudicada.

- Os 10% fazem muito sentido em um mercado aquecido como o Norte-americano, onde é relativamente fácil vender milhares de livros.

- No Brasil, esse percentual força o escritor à ter outra profissão.

- Agentes literários, dada baixa quantidade de livros vendidos, ganham no Brasil de 15 a 30% dos direitos autorais do escritor. No mercado americano, ganha 10%.

- Os 10% do escritor, no contexto brasileiro, caracteriza a falta de poder de barganha do autor nacional em seu mercado.

- Para o escritor ganhar um percentual maior, é preciso que a cadeia seja mais eficiente. Contudo, mesmo o elo mais forte (livrarias) está se enfraquecido.




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1 Comment


juscelene.oliveira2020
Jun 05, 2020

Excelente conteúdo, Bruno. Muito útil e importante para nós, escritores, entendermos como a roda gira. Meu desejo é que fosse mais fácil. Mas tá valendo mesmo assim. Obrigada.

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