Todos sabemos que escrever um romance, ou um roteiro ou livro de poemas, exige muito tempo e esforço. Talvez precisemos de seis meses, talvez de um ano. Talvez mais.
Diante de um desafio tão grande, qual é o segredo para seguir em frente até terminar o livro?
Não é um segredo. É a mesma coisa necessária para que qualquer coisa na vida dê certo. Persistência, constância e confiança. Foram essas três palavras que me ajudaram a levantar do sofá, desligar a TV e terminar meus romances. Foram as mesmas três palavras mágicas que deram conta da minha preparação para correr uma maratona.
Um passo de cada vez, até que as coisas deem certo. Um passo de cada vez, até que o esforço do próximo passo não seja tão grande. Uma palavra de cada vez, uma página de cada vez, um capítulo de cada vez, até que você termine o seu livro. Fazer e continuar fazendo, é disso que se trata a persistência e a constância.
O pulo do gato, contudo, é a acreditar que mesmo que erremos a direção, em algum momento, teremos um bom livro nas mãos. Simples assim. Somos criaturas mais simplórias do que imaginamos ser. Só nos esforçamos por um longo período se acreditarmos que a recompensa valerá a pena.
Se os dois primeiros elos dessa corrente são forjados através do esforço, o terceiro não é. É uma crença quase religiosa que no final tudo vai dar certo. Que nós somos capazes e que nossos erros nos ensinarão ainda mais que os acertos. E que, quando chegar o momento certo, mesmo que demore, vamos ter a alegria de saber que escrevemos um bom livro.
Toda essa questão da crença pode parecer boba para alguns, mas eu garanto que não é. Por natureza, somos ansiosos e inseguros e preguiçosos. Queremos um livro genial pronto sem ter que enfrentar a dor e o trabalho para sermos geniais.
Não é à toa que o escritor Douglas Adams disse “odeio escrever, adoro ter escrito.”.
O processo de escrita é um enfrentamento dos nossos medos, incertezas, agonias. Sem a confiança de que, em algum lugar no futuro, seremos bons o suficiente, partimos no meio.
Comparamos o que temos e o que falta e nos assustamos. Desistimos.
Essa é a razão por ser tão normal que escritores iniciantes comecem uma história e desistam dela no meio. Será que não ficaria melhor em primeira pessoa? Ou no passado? Será que os diálogos estão naturais? Será que os personagens são profundos o suficiente? Será que essa ideia que eu acabei de ter não é melhor?
Os questionamentos não param e as respostas não vem. Muitas vezes, são questões sem grande importância. A maioria dos problemas com as histórias será acertado naturalmente ao longo da escrita, das rescritas e revisões.
Quase sempre, o trabalho só precisa ser terminado e consertado.
Imaginem um escultor olhando para um bloco de mármore. Se ele não acreditar que pode fazer alguma coisa boa, para que ele vai lascar a pedra?
Ele precisa tanto de mãos firmes quanto nós precisamos. Ele precisa acreditar que fará algo digno, assim como nós precisamos. E ainda temos a tecla delete a nosso favor.
E para aqueles que têm a insegurança um pouco mais musculosa do que o normal, eu asseguro que estive no lugar de vocês por dez anos. Eu começava a escrever e desistia por não acreditar que conseguiria ser bom o bastante. Eu rasguei o que escrevi por vergonha. Eu desisti porque o esforço nunca seria recompensado.
Eu falhei tanto e tantas vezes que parei de me preocupar com os erros. Me acostumei a errar.
E fui tentando sem grandes pretensões até ler um best-seller americano cheio de falhas. Finalmente, eu acreditei que faria melhor.
Só nesse momento eu tive a confiança que seria um bom escritor algum dia. Só a partir daí que comecei a escrever O Segundo Caçador, que, quatorze meses e nove versões depois, venceu o Prêmio UFES de Literatura.
Resumindo, temos que nos esforçar e continuar nos esforçando. Precisamos acreditar que chegaremos lá, algum dia. Devemos compreender que não existe atalho. A evolução é gradual. Noventa e nove por cento do trabalho é suor. Se você quiser ser um escritor, esse é o caminho.
Trabalhe duro e não desista. O caminho é duro. Mas você não deve seguir sozinho. Faça amigos escritores. Conheça editores, agentes e livreiros. Estudo sobre literatura e o processo de escrita. Faça oficinas literárias. Procure sempre melhorar. E conte comigo, conte com o GUIA do Escritor de Ficção.
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