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  • Foto do escritorBruno Crispim

Você precisa reescrever o seu texto?

Atualizado: 23 de jul. de 2021


A reescrita do texto

Antes do post de fato, queria esclarecer uma dúvida que foi recorrente nessa semana: sim, eu dou aulas particulares de escrita. Eu chamo esse acompanhamento de mentoria literária.


Se você sonha em terminar um livro, mas está perdido, a mentoria é para você. Se precisar dessa ajuda, é só me contatar aqui ou acessar esse link para saber mais.

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Quando converso com escritores iniciantes, percebo uma grande resistência em torno da revisão e da reescrita. Vou ter que escrever tudo de novo? A pergunta é recorrente demais para uma resposta tão definitiva: Sim, várias vezes.


A reescrita e a revisão são processos fundamentais para a evolução da narrativa. A cada nova versão, aprendemos mais sobre o enredo, os personagens, os conflitos e nossa própria linguagem. A cada revisão, esculpimos o texto e aparamos arestas para que ele ganhe mais força, foco e impacto.


Se você não acredita, faça um teste. Reescreva um dos seus textos, do início ao fim. Então, compare a primeira com a segunda versão. Pela minha experiência, ainda sem terminar, você terá aumentado a complexidade da trama de tal forma que será impossível negar a importância da reescrita.


Não foi à toa que Ernest Hemingway, autor de “Por quem os sinos dobram” e “O velho e o mar”, disse que

“O primeiro rascunho de qualquer coisa é uma merda.” 

Essa frase, que é conhecida pela sua rigidez e obscenidade, pode parecer drástica, mas traz duas mensagens importantes:


A primeira versão do texto é apenas o embrião da história & você precisa escrever outras versões, até que a narrativa expresse sua ideia com mais precisão.

O propósito essencial da primeira versão é transferir toda a trama da sua cabeça para o papel. Não da melhor forma possível, mas da forma mais rápida possível. No momento em que você ganhar uma compreensão completa sobre o arco dramático do protagonista, você entenderá melhor a lógica interna da história e suas ramificações nos personagens e subtramas. Aliás, é normal que se demore algumas versões até que seus personagens desenvolvam uma personalidade complexa e autônoma, com formas de agir e falar próprias.


Concluir a primeira versão sempre seguindo em frente, sem voltar para corrigir erros que forem aparecendo, exige uma certa dose de fé no processo de criação e em si mesmo, algo que não é comum em escritores iniciantes. 


Não ajuda que a reescrita é vista como retrabalho, e que isso seja visto como resultado de erros cometidos pelo escritor e como um desperdício de tempo. O que não é muito difundido é que a reescrita não é retrabalho, é uma parte inerente a todo processo de criação.


Um ilustrador, por exemplo, começa a desenhar um rosto por um círculo. Depois, ele divide esse círculo em quadrantes. Então, ele traceja algumas linhas que servirão de base para o queixo e continua até que, aos poucos, transforma o círculo inicial em um rosto com características particulares. Cada versão do seu trabalho traz mais complexidade e beleza à imagem. É o que acontece com a escultura, com a pintura, com a música e, logicamente, com a escrita.

O conhecimento prévio da necessidade da reescrita cria um efeito colateral incrível: sem a pressão pela perfeição instantânea, as chances de um bloqueio criativo são muito menores.

Quantas versões são necessárias? Não existe número certo ou número máximo. Muitos escritores defendem cinco versões. Hemingway propõe dez. Já Milton Hatoum precisou de dezesseis versões para terminar o romance “Dois Irmãos”, sua obra-prima.


Tendo em mente que cada história tem as suas próprias exigências, proponho os seguintes objetivos para a escrita das cinco primeiras versões.


  • Antes de começar a escrever: Pesquisar, refletir e planejar a estrutura da história (caso você seja o tipo de escritor que prefere desenvolver sua história a medida em que escreve, pule essa primeira etapa).

  • Versão 1: Escrever a sua história até final, no estilo NaNoWriMo. Quando perceber algo que não gosta ou decidir desenvolver o enredo por um caminho diferente, anote as ideias novas que surgirem, mas siga em frente sem consertar nada no texto.

  • Versão 2: Deixe o texto descansar por, pelo menos, duas semanas. Nesse tempo, reflita sobre os problemas encontrados. Leia livros e assista filmes e séries do mesmo gênero ou sobre o mesmo tema da sua história, para ampliar sua visão sobre as possibilidades de desenvolvimento do texto. Depois, reescreva a narrativa do início ao fim. Dessa vez, seja ativo na correção dos erros e imperfeições que encontrar. Anote as consequências que essas alterações possam ter na história e imagine formas de incorporar tais alterações ao texto.

  • Versão 3: Dessa vez, foque apenas nos diálogos. Leia em voz alta e revise cada fala, do início ao final do texto. Tenha em mente os desejos e medos de cada personagem no contexto da história e de cada cena onde há diálogo.

  • Versão 4: Convide um leitor beta ou leitor crítico para avaliar o texto. Durante esse período, tente não pensar na história. Quando receber o feedback do seu primeiro leitor, avalie que comentários são relevantes e faça as alterações que considerar necessárias.

  • Versão 5: Finalmente, tente olhar para o texto com a imparcialidade de um leitor. Seja crítico, seja chato, anote o que não está funcionando e o que lhe parece clichê. Imprimir o texto pode te ajudar a alcançar o afastamento necessário.

  • Depois dessa quinta versão, a história não estará necessariamente finalizada. Talvez você precise escrever mais uma versão para refinar outros detalhes e decida submeter seu texto para uma revisão profissional. Mas você pode e deve comemorar. A maior parte do trabalho está concluída.


E você, quantas vezes costuma reescrever um texto antes de considerá-lo pronto?




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